Van Gogh: a vida - Resenha crítica - Steven Naifeh
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Van Gogh: a vida - resenha crítica

Van Gogh: a vida Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Biografias & Memórias

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Van Gogh: The life

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-85-3592-197-7

Editora: Companhia das Letras

Resenha crítica

Quem foi Van Gogh?

​A genialidade de Vincent Van Gogh só foi reconhecida após sua morte. Quando vivo, o artista holandês chegou a passar por problemas financeiros e vendeu apenas uma pintura, “O Vinhedo Vermelho”. 

Para se ter uma ideia da influência de seu trabalho, em maio de 1990, a obra O Retrato de Dr. Gachet, pintada em seu último ano de vida, foi vendida por 82 milhões de dólares. Durante o auge da produtividade, entre os anos de 1880 e 1890, Van Gogh foi completamente ignorado pela crítica e por boa parte de seus contemporâneos.  

Vincent Willem Van Gogh é o maior expoente do pós-impressionismo, um movimento artístico que cresceu no final do século XIX. Sempre foi sustentado pelo irmão Theodorus, o Theo. Os dois trocaram mais de 750 correspondências, verdadeiros documentos que explicam sua personalidade reclusa.

Nascido em 30 de março de 1853 em Brabant de Zundert, uma pequena aldeia holandesa, o pintor era filho de um pastor e de uma artista. Desde os primeiros anos de vida tinha interesse por arte, sendo muito incentivado pela mãe. 

Parou de frequentar a escola aos 15 anos e nunca mais voltou, até que começou a trabalhar com o tio como revendedor de arte. Quando se mudou para Londres, apaixonou-se pela cultura local, aproximou-se da religião e depois foi morar em Paris, onde morreu tragicamente, aos 37 anos.

Um coração fanático

​Van Gogh sempre teve um temperamento fanático, intenso, visceral. Embora muito tímido, tinha reações intempestivas com frequência. Seu irmão, Theo, tinha profunda admiração por ele, enxergando-o como alguém cheio de brincadeiras animadas, enorme afinidade e admiração mútua. 

Na infância, eram comuns os passeios nos campos e matas ao redor da cidade onde nasceram. Vincent não abria mão de mostrar as belezas da natureza ao irmão e até mesmo o ensinou a esquiar e a construir castelos na areia. Suas irmãs implicavam com a proximidade entre os dois. Por ciúmes, diziam que Theo venerava Vincent, como um verdadeiro ídolo. 

Ao longo da vida, Theo se questionava com frequência sobre porque o irmão aventureiro e inspirador, entusiasta de suas iniciativas, tão inteligente, engraçado e companheiro, havia se transformado em uma alma tão atormentada. 

Para ele, Vincent era vítima de um coração fanático, cuja maneira de falar fazia com que as pessoas o amassem ou o odiassem, sem meio-termo. 

Um homem de talento

Antes de abandonar os estudos, Van Gogh aprendeu inglês, francês e alemão. Depois de trabalhar na loja de seu tio, começou a ser sustentado pelo irmão, enquanto se dedicava à carreira profissional como pintor, a partir dos 24 anos de idade. 

Seu talento não ficou restrito à Holanda. Ele morou na Bélgica, onde conviveu com mineiros muito pobres, e na França, onde ocorreu sua morte trágica. No total, foram mais de 400 telas pós-impressionistas pintadas por Vincent, sendo que os três anos antes de morrer foram os mais produtivos. 

O período de maior inspiração artística foi quando trocou Paris por Arles, cidade mais ao sul da França. Ali, alugou uma casa e intensificou os trabalhos, convivendo com Paul Gauguin.

Os dois pintores tiveram um bom período de convivência, mas com o passar do tempo as discussões frequentes deixaram a relação entre os artistas insustentável. Isso porque enquanto Gauguin se dedicava às pinturas relativas à memória, Van Gogh era adepto de eternizar nas telas a paisagem ao redor, gerando inúmeras discussões sobre interpretações artísticas de cada um deles.

Até que, em dezembro de 1888, Van Gogh atacou Gauguin com uma navalha. Transtornado, o pintor holandês cortou o lóbulo da orelha esquerda, embrulhando-a e entregando-a a uma prostituta. 

Vincent foi internado em um hospital, onde recebeu a visita de Theo. Mesmo depois de receber alta, sinais de disfunções mentais, com uma aparente tranquilidade entremeada com acessos de fúria, seguiam atormentando o artista. 

Entre a lucidez e a revolta

Passamos da metade deste microbook. No período em que passou internado pelo irmão em um asilo, Van Gogh não deixou de pintar. Alguns de seus trabalhos chegaram a ser expostos em museus no mesmo período em que sua saúde mental se deteriorava. Tudo muito esporadicamente, sem o reconhecimento de genialidade de tempos depois.

Ao sair do isolamento depois de um tempo internado, foi morar perto da casa do irmão. Chegava a pintar um quadro por dia. Ao notar a piora no quadro médico de Vincent, Theo decidiu que ele seria tratado por Paul Gachet, médico de confiança da família. No ano de 1890, parecendo estar recuperado, Van Gogh passa a pintar ainda mais freneticamente e vai morar um pouco mais longe, em uma cidade ao noroeste de Paris. 

Cercado pela paz das paisagens rurais, praticava a pintura ao ar livre, colocando girassóis, pomares e colheitas no centro de sua obra, até seu estado de saúde voltar a se deteriorar na época do forte desentendimento com Paul Gauguin. 

No último ano de vida, Van Gogh chegou a pintar 150 quadros. Sua dedicação era inteiramente voltada à produção das telas que o deixaram tão famoso após sua morte. 

Morte 

Em julho de 1890, Van Gogh teve mais uma recaída em seu estado psicológico, impulsionado por dificuldades financeiras que o irmão passava. 

No dia 27, Vincent saiu para fazer um passeio e ao voltar para casa, não contou a ninguém sobre um disparo por arma de fogo contra seu tórax. Quando notaram que havia algo errado com o artista, vizinhos conseguiram alertar Theo, que viajou correndo para encontrar o irmão. 

Os médicos não conseguiram retirar a bala de seu corpo e o pintor morreu na manhã do dia 29. Foi enterrado com um caixão coberto por girassóis, a flor que mais amava. 

Se durante anos falou-se no suicídio de Van Gogh, esta biografia trata a hipótese de um assassinato como mais plausível, mesmo sem saber com certeza as circunstâncias do ocorrido e o paradeiro da arma depois da morte do artista. 

A versão do suicídio de Vincent estruturou uma narrativa sobre o fim trágico de uma vida atormentada. Mas segundo os biógrafos, é difícil afirmar que ele se matou, tampouco saber se o homicídio foi acidental ou intencional. Para os autores, o disparo contra Van Gogh ocorreu durante uma discussão com um estudante de 16 anos, embriagado em uma plantação de trigo próximo a uma estrada. 

A hipótese de suicídio é improvável porque os médicos chegaram à conclusão de que o ângulo da bala foi oblíquo. Quando alguém tira a própria vida, a trajetória da bala segue uma linha reta. Além disso, o disparo aconteceu a uma distância do corpo do pintor. É muito provável que Van Gogh não tenha querido incriminar quem atirou nele.

Se o tormento de Vincent chegava ao fim, começava o de Theo. Afinal, para quem era tão próximo do irmão, a tragédia trazia um abalo gigantesco. Com acessos de dor e remorso, a sífilis congestionou seus pulmões, sua mobilidade foi afetada até a doença afetar o cérebro. 

Ele só conseguia pensar no irmão, que não poderia ser esquecido. Com todas as pessoas com quem convivia, falava no irmão como grande artista que realmente foi. Sua amargura só diminuiu com o passar do tempo, ao ver o constrangimento de todos que não reconheciam o talento do irmão enquanto vivo sendo obrigados a dar o braço a torcer. 

Vincent era, de fato, um gênio. E Theo sempre soube.

Legado

Em 37 anos de vida, Vincent van Gogh foi pouco reconhecido como um grande pintor. Suas obras foram produzidas nos momentos de clareza mental, e não durante os surtos que o atormentavam devido aos distúrbios comportamentais. Na época, foi julgado como um louco e deixado de lado pela crítica. 

Seu legado póstumo o coloca como um dos maiores artistas do Pós-Impressionismo, com uma obra de mais de 850 pinturas, sendo quase 1.300 em papel. As pinturas de sua autoria estão entre as mais caras no mercado da arte. 

No ano de 1914, após a morte do irmão, sua esposa publicou a primeira edição de Cartas a Theo, uma coletânea de correspondências entre os Van Gogh, na qual podemos ter acesso a todo o tormento vivido por um dos maiores pintores de todos os tempos. 

Em 1962, sua coleção de arte foi transferida para a Fundação Vincent van Gogh, em Amsterdam, na Holanda, e, em troca, o estado comprometeu-se a construir o Museu Van Gogh para que todos tivessem acesso às obras.

Notas finais 

Buscar uma definição para a arte é uma das tarefas mais inglórias desde que o ser humano passou a estudá-la. Mas o fato de Van Gogh ter vivido atribulado de perturbações e ganhar reconhecimento sobre sua genialidade apenas depois de morto prova o quanto a maneira de se expressar do pintor holandês estava muito à frente de seus contemporâneos. Ter acesso à sua história de vida é tão comovente quanto admirar cada quadro que ele desenhou. Que essa trajetória triste e cheia de injustiças nos permita reconhecer os grandes artistas ao nosso redor, por vezes ocultos e desconhecidos, mas cheios de talento e buscando uma oportunidade. 

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Quem escreveu o livro?

Formou-se na escola de direito de Harvard em 1977. Estudou também literatura inglesa na Colby College e estudou música medieval e renascentista na Europa. Escreveu diversos livr... (Leia mais)

Formou-se na escola de direito de Harvard em 1977. Estudou também história da arte em Princeton e escreve para periódicos especializados no assunto, além de ter trabalhado na National Gallery of Art, em Washington... (Leia mais)

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