O demônio do meio-dia - Resenha crítica - Andrew Solomon
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O demônio do meio-dia - resenha crítica

O demônio do meio-dia Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Psicologia

Este microbook é uma resenha crítica da obra: The noonday demon: an atlas of depression

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-85-438-0100-1

Editora: Edição Econômica

Resenha crítica

Depressão 

No início da presente obra, o nosso autor aborda a depressão de uma forma geral. Isto é, ele descreve como a enfermidade está vinculada à ausência de propósitos na vida, às emoções e, sobretudo, à solidão.

Tendo passado por isso em sua própria vida, Solomon relata que o único sentimento presente nesse estado é o de insignificância. Com efeito, a depressão pode ser comparada ao nascimento e, ao mesmo tempo, à morte.

Nela existe uma espécie de desaparecimento e de presença. Para o autor, a morte simboliza uma desintegração do indivíduo, a partir da infelicidade, da falta de prazer e da perda de confiança em si mesmo e nas pessoas ao redor.

Uma das mais interessantes informações apresentadas aos leitores consiste no fato de que a depressão é a maior causa de incapacitações laborais nos Estados Unidos. Em outros países, o seu maior efeito é o de mascarar outras doenças.

Tudo o que ocorre no presente, durante o estado depressivo, é somente uma antecipação de dores futuras. Dessa forma, o presente, como tal, não mais existe para o indivíduo.

Essa é uma das principais razões pelas quais Solomon descreve a depressão e a ansiedade como os “demônios do meio-dia”. Dificilmente poderíamos pensar em algum termo mais adequado, visto que nos séculos passados a depressão foi com possessões demoníacas e classificada como pecaminosa.

Colapsos 

A despeito de ter presenciado alguns episódios depressivos em sua vida, o nosso autor conta que, após o falecimento de sua mãe, ele teve um colapso. Nesse período, porém, ele considerava que tudo estava em ordem.

Se a depressão é, por um lado, devastadora, ela pode, por outro, revelar a profunda fragilidade humana. A falta de impulsos sexuais, um sintoma clássico da depressão, também é discutida nesta obra.

A pessoa em depressão, além de não sentir desejos sexuais, começa a pensar que ninguém a amará e, portanto, nunca terá um bom relacionamento. No caso de Solomon, tornar-se deprimido foi como ficar "cego”.

Isso significa que, no início gradual, a escuridão acaba englobando tudo. Ele se sentiu, ainda, como se tivesse ficado surdo: ouvia cada vez menos. Isso durou até que uma espécie de terrível silêncio o envolveu.

Essa sensação é vividamente descrita pelo autor, ao relatar que nem mesmo ele poderia emitir quaisquer sons que penetrassem o silêncio. Ademais, sentia suas roupas se transformando, aos poucos, em madeira.

A seguir, uma forte rigidez nos joelhos e nos cotovelos progrediu para um peso terrível e uma imobilidade isolante. O deprimido, segundo Solomon, sente que essa situação acabará por atrofiá-lo e, dentro de um certo tempo, o destruirá completamente.

Nesse sentido, o autor compartilha com os leitores tudo o que passou durante os seus colapsos. Poucas pessoas imaginam que tais situações aconteçam a um depressivo. Entre os sintomas, destaca-se o fato de não conseguir se alimentar, vomitar, chorar repetidamente e não conseguir falar.

Quando se está em depressão, os minutos aparentam ser anos terríveis, à medida que a pessoa acometida desse mal desenvolve alguma noção artificial de tempo. Portanto, o depressivo tende a pensar que aquelas sensações nunca terão fim.

Com isso em mente, é bastante comum o pensamento de que a morte é a única solução possível. Entretanto, nem todas as pessoas têm a coragem e a energia para cometer o suicídio.

Chegamos a cerca de metade da leitura. A seguir, nos concentraremos em alguns dos elementos centrais do debate fomentado por Solomon a partir da presente obra, como os tipos de tratamentos, a relação entre a doença e a política e sua eventual função evolutiva.

Tratamentos 

Há diversos tipos de tratamentos para a depressão, como eletrochoque, remédios e terapias. No entanto, é impossível priorizar apenas os aspectos químicos, deixando de lado outros elementos que também influenciam os pacientes.

Apesar de os remédios ajudarem, existem funções complementares de grande importância, tais como a chamada “terapia da fala”. Elas auxiliam os depressivos a compreenderem a si mesmos e a lutarem contra a solidão.

A escolha de um bom psicanalista e psiquiatra é essencial. Afinal, é necessário que o indivíduo em depressão tenha confiança para iniciar e, o que é mais difícil, manter o tratamento.

O autor faz uma crítica interessante: como há muitas preocupações em relação às drogas utilizadas e pesquisas sobre o assunto, ele se surpreende com a ausência de algum tipo de análise voltada aos profissionais de saúde. De fato, é imprescindível averiguar se eles estão adequados para oferecer tratamentos corretos aos seus pacientes.

A TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), por exemplo, é geralmente usada para a criação de objetivos específicos. Isso ajuda a alterar o “presente” dos pacientes, a partir de investigações acerca de sua infância.

A TIP (Terapia Interpessoal), por sua vez, é focada mais no momento atual, tendo mais praticidade e limites bem definidos. A serotonina é um dos neurotransmissores que são diminuídos em pessoas com depressão.

Sua função no organismo engloba, dentre outras, a reação de agressividade, o sono, a digestão e a circulação sanguínea. Partindo desse princípio, Solomon abre a discussão a respeito da possibilidade de controlar a depressão mediante a elevação dos níveis de serotonina.

Obviamente, existem outros neurotransmissores que estão interligados, porém, é indispensável lembrar que a depressão não pode se resumir à química do cérebro. As próprias experiências do autor com antidepressivos reforçam esse argumento.

As pessoas que apresentam tendências suicidas podem se beneficiar com a rapidez dos resultados de tratamentos à base de eletrochoque. Contudo, uma vez que esse método pode afetar a memória, é provável que o paciente perca lembranças relevantes de sua vida.

Política 

A política pode ter uma função essencial nas ações de combate à depressão. A definição de tratamentos públicos, medidas de medicamentalização e intervenções sobre a manipulação de drogas são bons exemplos de iniciativas que dependem, em grande medida, dos atores políticos.

A relação entre depressão e política, no entanto, é bastante conturbada: basta notar que muitos políticos que passaram por episódios depressivos sempre tentaram ocultar o fato, receando que fosse interpretado como uma fraqueza. Isso talvez explique, segundo o autor, o descaso com que são tratadas as instituições voltadas aos doentes mentais.

Solomon narra, ainda, a história de um jornalista que decidiu se infiltrar em um hospital psiquiátrico. Seu objetivo era descobrir o comportamento dos profissionais de saúde e a forma de tratamento dispensada aos pacientes. A triste conclusão de que o local era deprimente deve servir de alerta para todos.

Evolução 

Muitos pesquisadores e estudiosos investigam se a depressão pode ter uma função específica na espécie humana. De acordo com os levantamentos feitos pelo autor, os evolucionistas sustentam que a depressão é, de fato, uma disfunção.

Isso significa que ela pode estar vinculada a certas premissas, como:

  • a perda de funções que eram importantes na chamada “era pré-humana”;
  • a aparente incompatibilidade de nosso cérebro perante o estresse da vida contemporânea;
  • a sua capacidade de influenciar sensações e comportamentos, dentre outras.

Certamente, a mudança de comportamento é uma função primordial da depressão. Ela afasta todos os modos de agir não produtivos, assinalando que os nossos recursos não estão sendo bem investidos. Dito de outra forma, quem está em depressão recebe um “sinal” da natureza de que o seu foco deve ser ajustado.

Notas finais

Cumpre ressaltar, por fim, a mensagem de esperança deixada por Solomon. No final do livro, ele compartilha casos reais de pessoas que foram capazes de controlar a sua depressão e de quem ainda luta contra ela sem desistir.

Caso você, algum familiar ou amigo esteja passando por essa situação, lembre-se de que o tempo perdido não volta mais. É indispensável que o deprimido “se agarre ao tempo” e não deseje que a sua vida se esgote.

A felicidade não é o oposto da depressão. A vitalidade é, verdadeiramente, o seu exato contrário. Embora odiemos os impulsos suicidas e as sensações destrutivas, são justamente esses aspectos que nos fazem olhar para a vida de uma forma mais profunda, descobrindo novas razões para continuar vivendo.

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Quem escreveu o livro?

Andrew Solomon é doutor em psicologia, título obtido na prestigiosa Universidade de Cambridge e consultor de... (Leia mais)

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