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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-65-5532-059-6
Editora: Rocco
No idioma holandês, a palavra “niks” é um substantivo que significa, literalmente, nada. Ele dá origem à expressão “niks doen”, o mesmo que “fazendo nada”. Foi a partir daí que surgiu o verbo niksen, uma abreviação que nomeia a filosofia de vida que os Países Baixos têm para ensinar o resto do mundo.
Em seus primeiros meses como vizinha dos holandeses, a autora deste livro acreditava que niksen tinha como significado a preguiça, a diversão, o lazer puro. Mas foi ao consultar um dicionário on-line que entendeu esse conceito como o de conscientemente não fazer nada ou não fazer muito. Trata-se de um hábito cultural, muito mais do que uma simples expressão popular.
Niksen é algo de que as pessoas se ocupam de tempos em tempos, ainda que não o façam de forma voluntária. Os nikseneadores são capazes de passar o dia todo à toa nas férias, acampando, deitados na praia, sentados em um parque ou simplesmente em casa. É comum ver muitas pessoas sentadas apenas aproveitando a vida nas cidades holandesas.
Não se trata apenas de descansar, mas um ato buscando combater o estresse e o esgotamento, ter um período para se dedicar ao ócio sem um objetivo específico, de forma a trabalhar para uma verdadeira limpeza mental em meio a tantos estímulos que chegam até nós por meios eletrônicos e analógicos.
Se você já passou um tempo olhando para a janela, sentindo a calma e o relaxamento sem se preocupar em atingir metas ou alcançar objetivos, então está mais próximo de colocar o niksen em prática.
Quando se vive em um país ou em uma cidade com ritmo de vida mais acelerado, aumentam as chances de sobrecarga. Consequentemente, é comum ver seus habitantes deixando seus sonhos de lado, subestimando o trabalho criativo em prol da mera sobrevivência.
E o niksen chamou especial atenção da autora deste livro quando ela percebeu o quanto o povo holandês é mais feliz do que a média mundial. Por lá, é possível pegar um trem, bonde elétrico ou ônibus em qualquer lugar, cruzando o território nacional de forma rápida e acessível.
Não há hostilidade generalizada entre vizinhos, que se cumprimentam nas ruas e sorriem para desconhecidos de forma natural. Perturbações e estresse do cotidiano urbano parecem não existir. É um lugar que funciona bem, sem a necessidade constante de se apressar.
Holandeses parecem satisfeitos com a própria vida, caracterizada pela calma e a moderação. Não é à toa que ano após ano, vários estudos colocam os Países Baixos em primeiro lugar no Índice Mundial de Felicidade.
E isso não é consequência apenas dos lindos campos de tulipas, do uso descriminalizado da maconha, de seu notável queijo ou do clima. Por lá, os relacionamentos são definidos como laços duradouros e profundos, que precisam de apoio e pertencimento constante.
Se estamos correndo de um lado para o outro, sem saber onde queremos chegar, nada disso é possível. Parar, respirar, ver e ouvir fazem parte de uma vida mais pacífica e saudável.
Se você pensa que colocar em prática esse jeito mais suave de ver a vida é fácil, é melhor repensar. Como toda e qualquer mudança em um estilo de comportamento, no começo pode ser complicado.
Isso por causa das nossas origens. Há muitos séculos, até antes da Idade Média, apenas grupos privilegiados da sociedade ostentavam sua riqueza exibindo-se, fazendo da possibilidade do descanso uma extravagância capaz de invejar os meros mortais.
Somente após a Revolução Industrial passamos a entender com mais clareza a diferença entre ócio e trabalho. O que conhecemos atualmente como lazer ganhou ares de um grande mercado a partir do século 19. Pagamos em troca de nosso relaxamento, recarregando as energias para voltar às atividades diárias com força total.
Nessa mesma época surge uma corrente filosófica estadunidense intitulada Novo Pensamento, colocando otimismo e positividade como antídoto ao puritanismo, desembocando no enorme setor de livros, coaches e opções de estilo de vida vendidas por gurus nas redes sociais. E isso não parou de crescer.
Até hoje, é possível notar a disseminação de uma corrente de pensamento que enxerga os períodos de descanso, de puro niksen, como algo negativo. Se você não tem nada para fazer, dizem que está perdendo tempo enquanto a concorrência não para de buscar por mais resultados e produtividade.
Lutar contra essa corrida sem fim não garante uma vitória repentina. É preciso olhar com mais racionalidade e clareza para a necessidade das pausas despretensiosas tão conhecidas pelos holandeses. Seu bem-estar agradece.
Já passamos da metade deste microbook destinado a entender a importância do ócio em nossas vidas. Não existe melhor forma de descobrir como o cérebro funciona do que pedir para que ele faça algo, criando uma tarefa.
Por muito tempo, o senso comum entendia que, ao não fazermos nada, nossa mente também ficava paralisada. Esse é um grande equívoco. Estudos realizados com exames de ressonância magnética demonstraram que a atividade cerebral não para.
Para determinada tarefa, uma parte do cérebro é mais acionada, demandando maior fluxo sanguíneo, enquanto outros campos mentais são menos exigidos. Mas ele sempre está exercendo sua função de comandar todo o corpo, bem como as emoções e sentimentos.
E quando estamos parados, sem o envolvimento em qualquer tarefa específica, uma rede especial, que inclui todas as principais conexões do cérebro, é despertada. É como se estivéssemos em um modo padrão, tendo o niksen como a condição natural desse estado, nos despertando apenas ao sermos motivados por impulsos internos, tais como a ansiedade e outras preocupações cotidianas.
Nosso cérebro age de forma coordenada, e quando não fazemos nada, ele age muito, trabalhando para que as conexões neurais sigam saudáveis e direcionando energia apenas àquilo que precisa de atenção para o momento.
Com isso, o niksen permite arejar as funções cerebrais, deixando-nos mais leves, sem carregar pesos desnecessários.
Essa prática não precisa ser realizada apenas quando você estiver só, dentro de casa. Nos intervalos de tempo em seu trabalho, também pode “fazer niks”. É bom para você e também para seu empregador, já que o momento de relaxamento permite maior produtividade quando estiver envolvido em tarefas que demandam atenção plena.
Entre tantos benefícios, o niksen também permite que você não caia no piloto automático. Reservando um tempo para contemplar o nada, sem obrigações cumpridas apenas de forma protocolar, é possível focar com todas as suas forças naquilo que precisa ser realizado no momento certo.
Caminhar um pouco ou fazer uma pausa têm o poder de relaxá-lo internamente, rebatendo a cultura acelerada que faz do descanso um hábito raro. Vale a pena ressaltar que depois de cerca de 60 a 90 minutos de trabalho é comum ver as pessoas mais desatentas e sem concentração.
É possível trabalhar em pausas que vão do nível básico, como paradas curtas ao longo do dia, até aquelas mais extensas. Esses intervalos melhoram, além de todos os aspectos citados acima, também sua autoestima.
E quanto melhores nos sentimos, mais contentes com nossas atividades cotidianas estaremos. Pensar em manter uma vida corrida, sem pausas, emendando um trabalho atrás do outro, além de não ser saudável é contra nossa produtividade. O niksen tem muito a nos oferecer, tanto individualmente como em sociedade.
Nem tudo são flores. Em alguns casos, determinadas pessoas podem se esforçar muito, mas não encontram o caminho certo para aplicar o niksen em sua vida. Pode ser que essa prática tenha funcionado no passado ou seja construtiva em momentos do futuro.
De tão naturalmente ativas, há quem sinta necessidade de se ocupar por todo o tempo, sem conseguir se conter, voltando naturalmente para suas atividades, mesmo as pequenas. Sua mente enxerga as tarefas cotidianas como um verdadeiro quebra-cabeças ou um tricô, em que sempre é preciso estar com a agulha trabalhando as linhas.
Se você conhece quem não consegue ficar sem assistir televisão, ler um livro ou fazer algo prático, entenderá do que falamos. E está tudo bem, não é um problema. Desde que se entenda o próprio perfil, as limitações internas, não há problema em abrir mão do niksen.
Importante mesmo é entender que existe hora de desacelerar, de sair do piloto automático. Ao menos, tente. Insista. No começo, pode ser difícil diminuir o ritmo, mesmo que por poucos minutos. Se você não for do tipo muito acelerado, vale a pena buscar uma nova forma de enxergar a rotina.
O niksen tem muito a oferecer para você entrar em um ritmo mais saudável de vida. Pare, relaxe, não faça nada. Não há problema algum nisso.
Quantos de nós se sentem incapazes de ter um momento de desconexão total, relaxamento e contemplação do nada? Por mais que isso pareça um hábito para desocupados, este microbook deixou claro o quanto esse hábito é saudável e até desejável para quem busca uma vida mais plena. Afinal, a correria do cotidiano parece nos sugar. Por isso, compreender e praticar o niksen é uma forma eficaz de buscar por mais felicidade e leveza. A lição dos holandeses é de que você não precisa ser produtivo o tempo todo. Reserve um tempo para descansar e sinta os efeitos positivos aparecendo aos poucos.
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Escritora, jornalista e tradutora radicada na Holanda, é colaboradora de veículos como o The New York Times, The Guardian, BBC e The Atlantic. Popularizou o Niksen em um artig... (Leia mais)
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